JEOVÁ é muito obsequioso na maneira em que torna conhecidos seus assuntos aos seus servos. Em vez de revelar a verdade de uma só vez, num único lampejo brilhante de luz, ele nos instrui progressivamente. Nossa trajetória pela verdade revelada poderia ser comparada à caminhada que o andarilho faz por uma longa estrada. Ele começa de madrugadinha, e vê pouco. Quando o sol começa a subir lentamente no horizonte, o andarilho consegue distinguir algumas particularidades da vizinhança. O restante ele vê de forma indistinta. Mas, ao passo que o sol sobe, ele enxerga cada vez mais longe.
O mesmo se dá com a luz simbólica – ou conhecimento – provido por Deus. Ele nos permite discernir umas poucas coisas por vez. O mais distinto filho de Deus, Jesus Cristo, esclareceu muitas verdades de forma similar. E embora Jeová tenha enviado seus profetas para esclarecer a luz do conhecimento aos seus servos, estes porém, preferiram 'apedrejar e matar a eles todos'. Foi assim até com aquele que tornou-se o maior de todos os profetas de Jeová – Jesus Cristo. — Mateus 23:37.
Como homem, Jesus Cristo, deveras era “a luz [esclarecedora] do mundo”. (João 8:12) Ensinava “muitas coisas com ilustrações” — coisas novas. (Marcos 4:2) Disse a Pôncio Pilatos: “Meu reino não faz parte deste mundo.” (João 18:36) Esta ideia era algo novo para os romanos e certamente para os judeus nacionalistas, porque estes pensavam que o Messias ia acabar com o Império Romano e devolver a Israel a sua glória anterior. Esse ensino novo foi completamente rejeitado pelos judeus como nação. Assim, o profeta que as proferia, Jesus, foi igualmente rejeitado e assassinado por aqueles que deveriam recebê-lo!
O fato é que Jesus refletia luz da parte de Jeová, mas as suas palavras não agradavam aos governantes judeus, que “amavam mais a glória dos homens do que mesmo a glória de Deus”. (João 12:42, 43) Escolheram apegar-se às tradições humanas em vez de aceitar o conhecimento iluminador. (Mateus 15:3-6) Rejeitaram a verdade de Deus, mesmo que esta tenha sido pregada pelo maior profeta de todos os tempos! Hoje, mesmo sabendo da verdade de modo mais apurado que os judeus daqueles tempos, os cristãos atuais fazem o mesmo, dá pra acreditar! Vejamos como se deu a rejeição naqueles tempo e como o fazem atualmente — Salmo 43:3; Mateus 13:15:
Ensinos “ocultos” rejeitados — nos primeiros séculos
Ao se aproximar o fim da vida terrestre de seu Instrutor, seus discípulos ainda tinham muito a aprender. Jesus ensinou muitas coisas mas poderia ter lhes falado sobre as “coisas profundas de Deus”. Dentre estas, com certeza, a verdadeira história sobre como as coisas 'vieram à existência' (João 1:3), ou sobre a vida que existiu neste planeta antes da 'criação de todas as coisas'. (Efésios 3:9) Porém, ele lhes disse: “Ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas não sois atualmente capazes de suportá-las.” — João 16:12
Ensinos 'ocultos' em Jesus? |
O fato é que eles não só não entenderiam mas, o que é pior, rejeitariam de imediato tais assuntos e os considerariam como ensinos “estranhos”. Jesus já havia testado aqueles discípulos e tinha visto o resultado. Por exemplo, discursando certa vez numa assembleia, disse: “A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”. (João 6:53) Qual foi o resultado? A maioria disseram decepcionados: “Esta palavra é chocante; quem pode escutar isso?” Após isso, “Foram embora” e não seguiram mais o Senhor. Rejeitaram a “luz do mundo”. (João 6:60, 66; 8:12) Jesus, sabendo que seria rejeitado pelos poucos dos discípulos que ainda o seguiam, caso abrisse sua boca para falar de ensinos polêmicos naquele momento, limitou-se a informar que o “espírito da verdade” se encarregaria disso no futuro — João 16:13.
Após o Senhor retornar aos céus, o “espírito da verdade” esteve ativo entre estes discípulos cristãos, 'pesquisando' e 'revelando' junto com eles muitas verdades. Dentre elas encontrava-se assuntos do calibre das “coisas profundas de Deus”. (1 Coríntios 2:10) Porém, passado algum tempo, veio à existência no cenário daquele mundo antigo uma apostasia, ou desvio, da verdade. Esta situação já era esperada. (Daniel 11:32-35; 2 Tessalonicenses 2:3) Com o aparecimento da Igreja de roma no cenário mundial, após o segundo século E.C., deu-se início a uma forma de cristianismo mesclado com ensinos pagãos e mentirosos. Esta adoração falsificada proscreveu o “espírito da verdade” e, rejeitando quase todas as profecias e profetas de Deus, abraçou a escuridão dos ensinos e filosofias de homens.
O espírito santo, ou “ajudador”, enviado por Jeová, foi suprimido quase que por completo. Esta situação permaneceria assim até o “tempo do fim”, quando, segundo o profeta Daniel, ele seria reativado entre os que 'percorreriam as escrituras em busca de conhecimento verdadeiro'. (João 14:16; Daniel 12:4) As evidências indicam que o tempo do fim já teve início. À partir de então, o “espírito da verdade” tornou-se ativo novamente. Assim, será que é agora o tempo oportuno para compreendermos verdades que estavam 'cuidadosamente ocultas em Jesus'? — Colossenses 2:3.
Sim, com certeza chegou o tempo das revelações divinas sobre assuntos polêmicos! As Testemunhas de Jeová, por exemplo, têm enchido o mundo com verdades esclarecedoras que, anteriormente, encontravam-se escondidas dos “sábios e dos intelectuais” religiosos da cristandade. (Mateus 11:25) Entretanto, por mais verdades que elas tenham aprendido e, com zelo incomum, tênham se empenhado na divulgação destas, precisam fazer ajustes sobre certos ensinos considerados 'verdadeiros' mas que não se ajustam às Escrituras. Resta-nos saber se terão a coragem e humildade cristãs, como afirmam ter, para fazerem isso.
Embora conhecidas pelo seu zelo incomum, há uma coisa que podemos afirmar com toda convicção: elas certamente continuarão, a exemplo de todas as religiões cristãs, a rejeitar certo profeta da parte de Jeová, bem como suas profecias. Que profeta é esse, quais suas profecias e de que forma é ele rejeitado?
Um profeta rejeitado
Por mais esforço que faça Enoque para explicar seu profetizar, os seus contemporâneos estão decididos a rejeitá-lo |
Como Deus “tomou” Enoque?
Enoque, pelo seu proceder e palavras, condenava “as coisas chocantes” que pessoas e até mesmo anjos faziam naqueles tempos. Enoque proclamou uma mensagem de julgamento a um mundo perverso. Temos de realizar uma obra similar no mundo atual que se opõe a Deus e que está cheio de todo tipo de maldade. — Judas 6, 15.
Após os dias de seu profetizar, Deus “tomou” Enoque. Para a maioria dos peritos em Bíblia – de todos os tempos – Deus tomou Enoque, explicam, por matá-lo. Isto mesmo, dizem que Deus o assassinou! Estas palavras são chocantes? Vejamos, por exemplo, como nós, Testemunhas de Jeová, como organização, explicamos o ocorrido:
Um anjo 'tomou' Enoque e o levou à estação em órbita |
É obvio que Estudos Perspicaz não usaria palavras pesadas tais como 'Deus o matou' ou 'Deus o assassinou'. Diz-se ali que isso só ocorreria se os “oponentes” de Enoque o pegassem. Para deixar a mensagem menos violenta, usa-se ali palavras menos chocantes. “Abreviou”, “transe profético” e “terminou a vida” de Enoque são palavras mais apropriadas, digamos. A enciclopédia deixa a questão da compreensão do que poderia ter acontecido em aberto, ao acrescentar a palavra “talvez”. Sim, talvez tenha sido assim, mas será que foi?
A revista A SENTINELA, outra publicação nossa, 1º de setembro de 2005 acrescenta: “É evidente que Jeová o transferiu do mundo dos vivos para o sono da morte, antes que os opositores pudessem pegá-lo”. Cita-se ali Hebreus 11:5 onde verazmente Paulo explica que Enoque foi “transferido” e explica que isso se deu para que ele 'não visse a morte'. O ponto chave está aqui. O que significa Enoque 'não ter visto a morte'? De acordo com o entendimento das TJ's como organização, significa que “é evidente” que Deus o matou num “transe profético” ou “enquanto dormia”. Assim, asseveram, não foi possível Enoque ter 'visto a sua morte'. Por mais que tentem dizer que não, é óbvio que estão dizendo que Deus matou ou assassinou Enoque. Deus fez isso?
Visualize a seguinte cena: Você enfia a mão numa gaiola e 'toma' um dos pássaros ali existentes. Significa que você o matará? Pode ser que sim, mas é a última conclusão razoável? Obviamente que não! Você talvez tenha 'tomado' o pássaro e o tenha levado a uma outra gaiola ou mesmo o tenha tirado dali para soltá-lo e, assim, muitas outras explicações podem ser deduzidas. O que significou portanto Enoque ter sido “transferido para não ver a morte”? Que tal a explicação do próprio Enoque? Sim, que tal 'ouvirmos' do próprio Enoque o que exatamente aconteceu com ele? Isto é possível? Sim, é!
Podemos saber da verdade sobre o que ocorreu com Enoque por ler o seu livro. Em seu livro ele conta exatamente para onde foi e o que foi fazer depois de sua 'transferência para não ver a morte'. A verdade é que Enoque não morreu ali, quando “Deus o tomou”. Para onde foi Enoque então? Enoque revela onde esteve, dizendo: “Antes de todas estas coisas acontecerem”, isto é, antes da destruição dos ímpios num dilúvio, “Enoque esteve escondido; e nenhum dos filhos dos homens [aqueles que o queriam matar] sabia onde ele estava, onde ele havia estado, e o que havia acontecido.” e acrescenta: “Eu, Enoque, fui abençoado pelo grande Senhor e Rei da paz”. (Enoque 12:1, 3) Vê sentido em Enoque ter sido 'abençoado pelo grande Senhor' por ter sido morto por Ele?
Quando os “oponentes” de Enoque o procuravam para o assassinar, Jeová, o “grande Senhor”, o levou para um 'esconderijo' e, desta forma, Enoque 'não viu a morte' porque não morreu. Mas onde Deus 'escondeu' Enoque? De acordo com uma descrição dele próprio, Enoque nos fala que, nessa 'transferência', aconteceu que “estrelas agitadas e brilho de relâmpagos impeliram-[no] e pressionaram-[no] adiante, enquanto ventos na visão assistiram o [voo dele], acelerando o meu progresso”. Enoque diz mais: “Eles [i. é.: o “brilho de relâmpagos”] elevaram-me no alto ao céu. Eu prossegui [voando], até que cheguei próximo dum muro construído com pedras de cristal. Uma chama de fogo vibrante rodeou-o, a qual começou a golpear-me com terror. Nesta chama de fogo vibrante eu entrei” — Enoque 14:8-10.
Enoque foi 'tomado' por Deus e levado aos ceus do espaço. |
Ensinos “ocultos” rejeitados — nestes dois últimos séculos
O livro de Enoque é verídico, diferente de alguns livros suspeitos da mesma época. Ele teve a participação de Enoque, de seu filho, Metusalém, de seu neto, Lameque e de seu bisneto, Noé. Impressionante quanto pareça ser lermos uma mensagem profética de antes do dilúvio, mais impressionante ainda é o fato de que 'peritos' bíblicos das religiões atuais – de todas as religiões cristãs – afirmam que o livro de Enoque não deve ser lido nem entendido como sendo dele. Afirmam que trata-se de um livro falsificado, “apócrifo”. O que é um livro apócrifo?
Fragmentos do livro de Enoque - cópia de 200AEC |
Enoque é recebido por um dos Deuses |
Atualmente, embora se reconheça Enoque como um servo e profeta corajoso de Deus, rejeitam-no por rejeitarem sua mensagem escrita. Esta rejeição não tem base firme para continuar. As testemunhas de Jeová, por exemplo, afirmam que o livro é uma farsa e que devemos evitá-lo. O “espírito da verdade” diz o contrário. Ao permitir que Judas o cite, está nos ensinando que, mesmo contendo 'coisas cuidadosamente ocultas' nele, é da parte de Jeová. Não é verdade que, conforme mostra o livro bíblico de Colossenses 2:3, “Cuidadosamente ocultos³ [em Jesus] se acham todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.”?
³ Gr.: “a·pó·kry·fos”.
Conclusão
Deuses iam e vinham de diante de enoque |
Indico a você fazer o mesmo e, como incentivo, deixo aqui o link para o livro de Enoque. Baixe-o e leia-o. E pra você que quer dizer que eu estou ficando 'doido', ou coisa do gênero; e que 'tenho de obedecer à organização e aos anciãos' de congregação ou às 'orientações do escravo' e outras advertências do gênero, te respondo com as seguintes palavras: “[tenho] de obedecer a Deus [primeiramente] como governante, [depois] aos homens”. (Atos 5:29) Nós, crentes cristãos, estamos obedecendo como governantes 'antes os homens [os católicos que fizeram o cânon muito “mais tarde”, em 1546] do que a Deus'. Porém, a partir de hoje, podemos escolher a quem obedecer e como fazer isso.